domingo, 13 de julho de 2014

Reflective. Absolutely.

Esses dias meu professor me perguntou que tipo de pessoa eu era, e eu não tive dúvidas em responder: reflective. Com apenas 2 meses aqui, já relfleti e aprendi um bocado de coisa que sequer imaginaria aprender. Mas antes de ler o que eu aprendi, amigo/a, aconselho a dar uma lidinha no que a Ligia perdeu

Esse texto não é, de forma alguma, uma tentativa de cópia ou qualquer coisa do tipo. Até porque, o texto dela é impecável, e eu não tenho capacidade de fazer o mesmo. Esse texto é apenas uma reflexão do que eu era, e do que eu me tornei até então. Com certeza alguém diferente da que veio, e ainda mais diferente da que vai daqui a 16 meses.


O MEDO:
Eu não sei nem por onde começar, porque minha mente rodeia de tal forma a não conseguir encontrar o começo. Mas talvez seja bom falar do maior medo que eu tinha antes mesmo de escolher Londres. Eu tinha medo de não ser ninguém. Veja bem, eu morava numa cidade em que, apesar de capital, todo mundo conhece todo mundo... Eu ia numa festa e conhecia 80% das pessoas que estavam lá. Eu tinha contatos. Londres me assustava com sua grandeza e me amedrontava com a ideia de que aqui eu seria apenas mais uma pessoa, não Luciana Gasparini. Quando cheguei aqui, ser uma pessoa anônima me conquistou. Ir para uma festa e fazer o que quiser sem ninguém me julgar? Não me preocupar com a roupa que visto? Não me preocupar com o que falo? Dançar até o chão, paquerar o gatinho ali do lado, beber além do limite. E daí? Foda-se. Aqui eu não sou ninguém. Aqui eu sou eu mesma. E eu amo isso. Aqui não tem fulano pra me dizer que estou errada, que não devo pensar assim, que não devo agir assado. Aqui sou eu e minha consciência. Aqui sou eu, minhas ações e minhas consequências. Minhas. Não as dos outros.

STATUS, PRA QUÊ?
Depois, refletindo um pouco mais sobre minha vida em Vitória, eu percebi como ela girava em torno da futilidade. Encarar seu passado e perceber que muito dele se baseava no que os outros pensam, no que os outros querem, no que os outros veem, e no que os outros valorizam é bem difícil. De início você não quer aceitar. Você pensa: "não, mas eu sempre fui muito decidida". É, mas você ia naquela baladinha por status, queria conviver com pessoas populares e queria estar no centro do mundo das badalações. Você seguia aquela pessoa no instagram e curtia todas as fotos dela não porque gostava ou concordava. Às vezes você nem a conhecia, mas era status estar ali nos "amigos" dela, então você o fazia. Aquela SUPER FESTA do final de semana era mais importante que o filmezinho em casa. Repetir roupa? Não digo "jamais" porque sou pobre e não podia me dar ao luxo, hahaha, mas certamente o faria se tivesse condiçõe$. Daí resolvi jogar fora tudo que não me acrescentava. E não sinto falta nenhuma. Quer saber? Estou até mais leve. Reformulei meus amigos do facebook, fiz a limpa no instagram. Parei de seguir a mente de algumas pessoas. Saio quando quero, saio pra me divertir. Vou pra onde gosto da música, vou pra onde quero. Não saio, fico em casa. Às vezes o parque se torna mais legal que o show, e beber em casa com os amigos mais prazeroso que o bar.

EU, EU MESMA.
Aprendi que estar sozinho nem sempre significa estar só. E que eu adoro minha companhia. Aprendi que eu não preciso estar 100% do meu tempo com alguém do meu lado. Separar um tempo a si mesmo é ótimo. E essencial. Sempre me incomodei com esse negócio de "ah, não vou sair hoje porque não tenho companhia", "ah, todo mundo quer ir para o lugar X e só eu quero ir pro lugar Y, então vou pro X pra não sair sozinha", mas nunca tive coragem de ir sozinha pra algum lugar. Parecia que eu estava num vazio, que faltava amor, carinho, amigos. Mas não, faltava independência. Esse negócio de depender de amigo pra fazer o que te dá na telha é uma bosta. E eu me prometi que aqui em Londres eu mudaria isso. Hoje faço compras sozinha, vou ao parque sozinha, vou à boate sozinha. E acabo conhecendo um monte de gente nova. Acabo conhecendo a mim mesma.

AMIGOS... OU SERIAM COLEGAS?
Outro choque foi (re)conhecer ainda mais quem são meus amigos. Perceba que está tudo muito interligado e que às vezes é difícil separar as coisas: vida fútil, badalação, ser alguém conhecido (ou não), as pessoas que estão à sua volta. Mas você começa a entender que muita gente te rodeia por interesse, não por amor. A distância te faz perceber quem são amigos de verdade. Quem te faz falta. E a quem você faz falta. Fica ainda mais claro na sua cabeça e no seu coração quem são amigos, quem são colegas. E quem são apenas conhecidos. Quem vale à pena manter por perto. Quem não faz diferença alguma se você se afastar.

EU SOU MAIS FORTE DO QUE PENSAVA.
Errar uma vez é humano. Duas é burrice. Quando você se depara novamente com alguns problemas emocionais que no passado foram difíceis de enfrentar, mas que agora você tem peito de dizer "não" pra eles, e dar a volta por cima, você se sente incrivelmente forte. E orgulhoso de si mesmo. Dar uma nova chance a si mesmo é ótimo. Provar que você é capaz de lutar contra o que te fere é melhor ainda.

MINHA MÃE SEMPRE ESTEVE CERTA.
Umas das coisas mais incríveis de morar sozinha foi finalmente entender a cabeça da minha mãe. Eu não arrumava o quarto, eu não abria a janela, eu não lavava a louça, eu deixava a roupa suja do lado avesso. A minha vida era sempre baseada no "depois eu faço". A gente brigava MUITO por causa disso, era um tormento lá em casa. Ela sempre dizia: "você nunca faz". E eu sempre respondia "meu tempo é diferente do seu, eu não quero fazer agora, e eu não vou fazer". Daí eu vim pra cá e eu aprendi que "depois" não existe. Criei o hábito de deixar minhas coisas arrumadas, de lavar minha louça, de abrir a janela pra arejar o quarto. Criei o hábito de lavar roupa e percebi como eu dava trabalho pra ela. Criei o hábito de limpar meu banheiro e de ter que dar conta de casa, supermercado, banco e dos estudos ao mesmo tempo. E eu percebi como cada gesto meu reflete no dia-a-dia dela. E de como eu era má. Percebi como é cômodo e injusto ter sempre alguém pra fazer as coisas pra você. Percebi que eu era uma boa filha, mas não o suficiente.

DIVIDIR PRA MULTIPLICAR. CONTROLAR.
Nunca fui consumista ou gastadeira. Nunca fui dessas de entrar numa loja e torrar a grana. Nunca fui de entrar no supermercado e fazer compras sem me preocupar com a conta. Mas aqui o controle financeiro se tornou um hábito. E metas se tornaram desafios. Aprendi que pra ter certas coisas, como viagens, preciso abrir mão de outras. Aprendi que o enxaguante bucal de £0,65 tem o mesmo efeito que o de £4,00. E que nem tudo que é mais caro é necessariamente melhor. Aprendi a não beber nas festas pra economizar dinheiro pra roupa. Aprendi a não gastar com roupas pra investir melhor na minha alimentação. Aprendi a dividir as frutas e até a fazer café-com-leite. Aprendi a comprar em dobro para o preço sair pela metade. No início me chamaram de louca, porque eu conto centavo a centavo, mas minha loucura tem fundamentos, e não me faz mal. Então que eu seja louca.

VIDA LOUCA, VIDA BREVE. JÁ QUE EU NÃO POSSO TE LEVAR, QUERO QUE VOCÊ ME LEVE...
Essa música do Cazuza tem um contexto diferente aqui. Eu sempre fiz muitos planos. Era dessas que estava no ano 2013 planejando o ano 2022. Sabia exatamente onde moraria, o que iria fazer. Hoje eu prefiro viver a fazer planos. Se preocupar com o amanhã se tornou banal, e deixar a vida me levar muito mais atraente. Hoje prefiro não pensar no que farei no dia seguinte, ou como o farei. Apenas fecho os olhos e deixo o amanhã chegar. Lá eu me viro. Eu continuo tendo sonhos, mas talvez eles se realizem de uma forma diferente da que eu planejo, e isso me deixa em êxtase.

MINHA VIDA, MEUS PROBLEMAS.
Lembro perfeitamente que quando cheguei aqui, precisava pegar um trem para o lugar onde moraria... Peguei o trem errado e não sabia mais para onde estava indo. O desespero bateu, e eu só sabia chorar. Eram 4h da manhã no Brasil, e eu, sem nem pensar nisso, liguei pra minha mãe e comecei a chorar com ela, sem saber o que fazer. 1 mês depois eu estava arrumando minha bolsa e percebi que meu cartão do banco não estava lá. Todo o meu dinheiro estava fora das minhas mãos. O desespero bateu. Eam 00h e eu tive que fazer o esforço de lembrar o que podia ter acontecido. Esqueci meu cartão no supermercado. Respirei fundo, dei aquela choradinha básica (medo de me roubarem, fato), e pensei: ou eu ligava imediatamente pro banco e cancelava o cartão ou eu esperava até o dia seguinte pra voltar ao supermercado e buscar meu cartão (que eu nem tinha certeza se estava lá). Pedi conselho pro Matheus. Tentamos ligar pro banco e nada. Nem eu tinha créditos, e nem ele. Tava foda a pressão. Ele foi dormir e eu fiquei sozinha no quarto. Eu olhava pro telefone e tinha a maior vontade do mundo de ligar pra mamãe e desabafar. Mas já era tarde da noite, eu só ia preocupá-la, ela não ia poder fazer nada por mim, e aí seriam 2 pessoas sem dormir direito, não só 1 (no caso, eu). Mas minha vida, meus problemas. Fui forte, deitei e dormi. Acordei 5h, fui ao supermercado e resolvi tudo. Quando já estava tudo certo, liguei pra mamãe e relatei o ocorrido. E fiquei orgulhosa por ter conseguido me segurar e guardar minhas preocupações só pra mim. Descobri que sou muito mais capaz disso do que pensava.


E a vida anda seguindo, e cada dia eu aprendendo mais... Sobre ela, sobre mim, sobre os outros... Fazer um intercâmbio é, de fato, uma oportunidade única de crescimento pessoal enorme. Se eu me arrependo de estar aqui? Não mesmo. Em Vitória eu não teria a chance de ter todas essas descobertas. Seria apenas mais 1 ano de mesmice. Seria apenas mais 1 ano de angústia por estudar numa sala que eu não gostava, mais 1 ano sonhando em morar na Europa sem ver uma real possibilidade disso, seria mais 1 ano de cegueira pra muita coisa. Seria mais 1 ano qualquer. E aqui, nesses apenas 2 meses, eu vejo como posso ter 1 ano mágico e de muito mais aprendizado do que qualquer outro. Viver aqui é muito mais do que um dia após o outro. É uma descoberta sem volta de si mesmo.



14 comentários:

  1. Gostei de saber como vc esta amadurecendo positivamente,tirando bom proveito até de seus problemas e de tudo que vc está passando.É dessa forma que crescemos no lado pessoal,com consciência,postura digna.Aproveitando bem a independência para se fortalecer. Um beijo,um abraço e fica com Deus!!! Tia Vera e Ana Paula.

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    1. Hahaha, lindas!! Muito obrigada por tudo, por todo apoio e por todo amor!! Amo vocês, muitas saudades! <3

      Beijinhos!

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  2. Muito bom o seu texto! Me sinto sempre contemplada em seus posts que falam sobre emoçoes, mas dessa vez tenho uma estranha sensaçao de que sinto o inverso. Que aqui ainda no Brasil, eu nao tenho esses medos que vc fala e um novo medo surge. Sempre fui bem solitaria e sei que tenho amigos que conto nos dedos e isso me basta, mas sinto que tenho criado uma fobia ou paranoia de ficar sozinha demais no uk, que nao vou simpatizar com os colegas e eu teria a necessidade de me forçar a por uma capa para nao me sentir excluida... uma necessidade de confiar em alguem ja que estarei longe demais de tudo que me conforta aqui. enfim. To muito feliz por vc, de verdade! Vc transparece sentimentos bons. Aproveite bastante!

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    1. Aiii, que pessoa fofa!! =)

      Então, pra dizer bem a verdade, a vida aqui no início é meio difícil... Você não sabe em quem confiar, quem pode ser seu braço direito... E até mesmo se decepciona com os melhores amigos... Mas exatamente pra não ficar sozinha, tem que aprender a manejar isso e dar a volta por cima... No fim de tudo, é um aprendizado muito grande! Eu tinha problemas de relacionamentos... Como sou muito exigente e muito intensa, quando me decpecionava com alguém, acabava me afastando dessa pessoa... E no fim, me vi sozinhas muitas vezes por motivos muito bobos... Que eu podia ter relevado. Aqui se aprende a ser um pouco mais flexível justamente pra não cometer esse erro! =) No fim das contas é muito bom e se aprende muito! =)

      Beijinhos!

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  3. OI! Seu blog tem sido muito útil! Parabéns!!!
    Tb faço medicina e pretendo me inscrever na próxima chamada do CsF. Me identifiquei pq tb pretendo me especializar em neurologia, no meu caso neurocirurgia.
    To quase enlouquecendo sem saber oq fazer, provavelmente irão abrir 1800 vagas pro UK, to achando pouco e com medo de não conseguir entrar. Pro USA o suposto numero de vagas é 5500, mas eu quero muito ir pro UK. Enfim, as duvidas de td q pensam em estudar fora.
    Não sei como é a concorrência pro CsF, será que tenho chances ou desisto e escolho EUA?!
    Ainda vou fazer o IELTS mas não sei se terei uma nota boa o suficiente.
    Enfim está muito dificil me decidir.

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    1. Eiii!! Olha, se você quer um dica... CORRA ATRÁS DOS SEUS SONHOS. Essas 1800 vagas têm que ser de alguém. Porque um desses "alguém" não pode ser você? Vá e siga seu coração, ok? Todos têm chances, inclusive você! ;)

      Beijinhos!

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  4. Você está de parabéns, Luciana. Esse tipo de crescimento é o mais importante que a gente precisa ter.

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  5. Posta as acomodações? Quero middlesex e seu blog eh o melhor. Congrats ;) !!!

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    1. Claro que posto!!! Me dá só um tempinho pra atualizar tudo aqui, estou meio lesada ainda! Hahaha

      Beijinhos!

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  6. Incrivelmente incrível cada linha do teu texto. Acho que até te entendo em certas coisas, principalmente na "estou em 2013 e já penso onde estou em 2022" (HAHAHAHAHAHA)
    Muito obrigado por compartilhar tuas histórias por esse blog, não somente aqui, mas tbm pelo Instagram (sim, tbm te sigo por lá) pq um dia quero fazer CsF e penso na em me candidatar para Londres, acho que pelos mesmos motivos que estas passando, que é de descoberta de si msm.
    Enfim, parabéns pelas tuas descobertas e sucesso por aí, garota! ;)

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    1. Hahaha, que fofo você, Lucas!!! :D Muito obrigada! Tomara que dê tudo certo pra você também, viu! Muito sucesso pra ti! ;)

      Beijinhos!!

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